18 julho 2008

.::Tempo de Observar::.

As pessoas passam apressadas
Para pegar seus respectivos trens
Faz mais de duas horas que vejo isso
O banco é gelado, o vento e as pessoas também
Mas apenas uma coisa me importa: como estou.
Nunca me senti dessa forma...
Ah tudo bem, senti-me de forma parecida
Mas não igual.
Tenho paciência suficiente para olhar as pessoas pegando trens
E entendê-las.
Entender o porque correm. E querer continuar sentado aqui observando tudo isso.
Lá fora o mundo corre
Na ânsia de seguir o mundo as pessoas correm também
E aceleram umas às outras.
Antigamente eu perguntava o que faziam os botões que eu iria apertar
Agora eu aperto os botões e lhes digo o que quero que eles façam.
Existe uma grande diferença entre tudo isso.
Entre correr e caminhar.
Entre passar e trilhar.
Entre seguir e abrir caminhos.
Só percebe isso quem pára e observa.
Já fui melhor nisso que faço...
Mas estou reaprendendo como fazê-lo
E estou melhorando
Consigo identificar algumas pessoas que sorriem socialmente
Ou que acreditam que a felicidade está nesta ou naquela coisa
Ou que sorriem socialmente e acreditam que a felicidade está nas coisas porque lhe disseram isso
E isto é triste.
Pessoas assim perdem a beleza da aleatoriedade da felicidade
De como é bom ouvir a música que você gosta tocando na rádio JHGZ Fm às 23h47 de uma quinta-feira.
E de se lembrar de como é divertido se reunir com os amigos numa praça aleatória com uma garrafa de refrigerante vagabundo e um violão.
Ou quem sabe de andar sem rumo em meio ao caos e encontrar uma senhora vendendo os chocolates que você gosta.
E para não me deixar esquecer disso tudo eu fico aqui olhando as pessoas que só se importam com o trem que devem tomar.
Aliás, eu sei que é a terceira vez que o trem que eu deveria tomar passou...
Mas quem disse que é agora que eu quero ir para casa?

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Chegou um tempo em que não importa exatamente o objetivo
Deve-se observar o tabuleiro e analisar o que está acontecendo
As peças devem ser movidas sagazmente como sempre
Mas o que importa disso tudo é o movimento surpresa...
Pois no xadrez da vida talvez o importante não seja o cheque-mate mas sim as jogadas que você faz durante sua partida...

.::A Queda de Khrün::.

O toque da trombeta do sentinela mais externo avisou: o rompimento da antiga aliança se cumprira.
Khrün alvoroçara-se. Não esperavam este golpe de quem por tanto tempo lutou ao seu lado.
As muralhas azuis de Khrün cintilavam junto de seu estandarte azul e prata. O dia tinha escurecido, apesar de ser meio-dia, e a única fonte de luz era a própria Khrün e seu exército em formação.
Ouvia-se ao longe um som surdo do gigantesco exército dos corrompidos.
O próprio herói khrüniano tomou a frente do exército, montado em seu magnífico cavalo branco. E disse:
"Meus irmãos! Hoje lutaremos contra nosso próprio sangue. É de conhecimento de todos que nossos aliados não precisam mais de nós. Corromperam-se com a mais nojenta e asquerosa estirpe mercenária. Jamais nos renderemos a uma atitude tão vil. Defendamos nossa honra, nossas terras puras, nossas belas mulheres, nossas crianças, nossos animais e toda nossa alegria do povo corrompido que se aproxima. Nossos feitos serão cantados por todo o sempre por todos os bardos e animadores do povo que possam existir: lembrarão da nobre aldeia que defendeu sua pureza contra seus iguais que se corromperam! Os traidores não terão sequer nota de rodapé em toda a História... traíram nossa aliança e nosso sangue! Força homens! Expulsemos os corrompidos de nossa terra!"
A multidão urrava em extase, brandindo as espadas.

O exército dos corrompidos parara logo às muralhas.
E com um estampido investiu contra a muralha de Khrün. Investiram duas vezes. Três. Quatro. Até que um pedaço da muralha cedeu e as hordas invasoras começaram a entrar nas terras puras. As falanges khrunianas demonstravam todo seu valor contra a cavalaria inimiga. Porém os corrompidos tinham gigantesca vantagem numérica. E mesmo com toda bravura do povo khruniano eles entraram na cidade.
Vendo o sangue de seus irmãos manchando o solo querido, o herói khruniano lutava com lágrimas aos olhos. E isso o fazia derrubar ainda mais inimigos.
Enquanto isso o herói corrompido adentrava as muralhas. Ao vê-lo o herói khruniano investiu com toda fúria. Derrubou 15, 20, 30 inimigos em sua investida. Mas finalmente foi cercado e derrubado de seu cavalo.
E ali entrou para a história como o herói da maior aldeia que todo o continente leste jamais vira. Os inimigos foram subjugados tempos depois pelos próprios mercenários com quem haviam se aliado, e se arrependeram amargamente de terem abandonado a valiosa Khrün. Porém era tarde.
Khrün já era mais do que uma simples aldeia.
Khrün já era A História.

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A metáfora transcende o tempo, as palavras e os sentimentos que já não existem...
Mas a grandiosa Khrün sempre foi e continuará sendo A História.